Lá vêm os quenianos

Foto crédito: Fernanda Paradizo (@fparadizo) – Timothy Kiplagat – São Silvestre

Dizia o narrador da Corrida Internacional de São Silvestre na TV Gazeta, Alexandre Silvestre nos quilômetros finais da corrida mais famosa da América Latina.

Entre os 35 mil participantes, os principais destaques são os quenianos. Comenta-se muito que eles correm por equipe. Mas, não é bem assim que acontece.

Todos têm um único objetivo – a vitória!

Vencer para eles, significa sair da pobreza que vivem nas aldeias do Quênia. E, quanto mais dinheiro arrecadarem nas competições internacionais, significa melhorar a qualidade de vida de seus familiares. Existe uma grande união entre eles que treinam juntos e passam por muitas dificuldades. Porém, na hora da prova, quem estiver mais bem preparado – vence.

O segredo do sucesso

A maioria dos atletas nascem em áreas rurais. Quando crianças são obrigadas a irem para a escola correndo descalças, chegando a percorrer mais de 10 quilômetros de percurso, entre ida e volta.

Assim que os atletas são revelados para o atletismo, a maior motivação passa a ser a vontade de vencer e de divulgar o Quênia para o resto do mundo. Além disso, a maioria das tribos estão localizadas em regiões que superam os 2 mil metros de altitude, o que favorece a melhora do condicionamento físico, com o aumento da taxa de hemoglobina no sangue, responsável pelo transporte de oxigênio, principal fator para o alto rendimento em provas de longa distância.

Porém não basta só talento natural, o verdadeiro segredo do sucesso dos quenianos está na disciplina diária com que conduzem seus treinos. Chegam a percorrer mais de 200 quilômetros por semana em trilhas, montanha. Os treinos de qualidade em pista são realizados em terra batida.

O primeiro atleta do Quênia a vencer a São Silvestre foi Simon Chemwoyo em 1992 e desde então foram dezessete vitórias. Entre as mulheres, Hellen Kimayio, em 1993 foi a primeira queniana campeã da prova, somando dezoito vitórias.

Paul Tergat, têm o maior número de vitórias conquistadas em 1995, 1996, 1998, 1999 e 2000. No ano de1995 com 43 minutos e 12 segundos, Tergat estabelecia o melhor resultado na distância que durou muitos anos.

Recordes da São Silvestre

O atual recorde da prova no masculino é de Kibiwott Kandi com 42 minutos e 59 segundos, média de 2 minutos e 51 segundos por quilômetro, conquistado em 2019. Kandi é atleta do Quênia!

No feminino, em 2016, Jemina Sumgong, correu para 48 minutos e 35 segundos, média de 3 minutos e 14 segundos por quilômetro. Sumgong, tamém é atleta do Quênia.

98ª. Corrida Internacional de São Silvestre

Foto crédito: Fernanda Paradizo (@fparadizo) – Catherine Reline e Sheila Chelangat – São Silvestre

Catherine Reline Omanang´ole de apenas 21 anos de idade, torna-se bicampeã da São Silvestre com 49 minutos e 54 segundos, média de 3 minutos e 19 segundos por quilômetro (49´39 em 2022).

Sheila Chelangat, 25 anos, é vice-campeã com 51 minutos e 35 segundos.

Timothy Kiplagat Ronoh, 30 anos, que correu com o número 1, vence a prova em sua primeira participação com 44 minutos e 52 segundos, média de 2 minutos e 59 segundos por quilômetro. No mês de abril, na Holanda, foi vice-campeão na Maratona de Roterdã com 2 horas 3 minutos e 50 segundos, média de 2 minutos e 56 segundos por quilômetro.

Para se ter uma ideia do quão difícil é a São Silvestre (percurso, calor, umidade), o ritmo do Kiplagat nos 42.195 metros em Roterdã de 2´56 por quilômetro foi mais rápido do que os 2´59 por quilômetro nos 15 km da São Silvestre.

Foto crédito: Fernanda Paradizo (@fparadizo) – Timothy Kiplagat e Emmanuel Bor

Emmanuel Bor, 30 anos, com 45 minutos e 28 segundos foi o vice-campeão da São Silvestre.

Catherine Reline, Sheila Chelangat, Timothy Kiplagat e Emmanuel Bor, são treinados pelo mesmo técnico: Federico Rosa, filho do Gabriele Rosa.

O italiano Gabriele Rosa, médico cardiologista, no ano de 1990 no centro de medicina do esporte em Brescia na Itália desenvolveu um método de treinamento que tornou possível as vitórias de seus atletas em várias maratonas no mundo e nos Jogos Olímpicos.

Em 1991 criou um projeto para descobrir novos talentos no Quênia através dos “trainings camp”. Desde então conquistou 12 recordes mundiais, 21 medalhas de ouro em campeonatos mundiais, 19 medalhas olímpicas e 56 vitórias nas principais maratonas no mundo.

Wanderlei Oliveira

Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

2 comentários

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  • Nossa, eles sao muito maravilhosos, eu sou fã da garra. acredito que a corrida está para os quenianos assim como o futebol para muitos brasileiros, que querem fazer sair da extrema pobreza. Cada um tem sua motivação, mas o certo é que sem trabalho árduo, foco, disciplina e dom os objetivos ficam muito mais distantes. Aplaudo de pé os atletas quenianos, brasileiros (temos exemplos com a mesma motivação aqui), viva o esporte, viva a corrida, viva os incentivadores e patrocinadores, viva vc WO, que é referencia e sempre nos traz tanto conteúdo especial.

Wanderlei Oliveira

 

Iniciou no atletismo em 1965. Já percorreu o equivalente à três voltas ao redor do planeta Terra. Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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