MR. OLÍMPICO
De Moscou em 1980 à Tóquio em 2020. Álvaro José, já cobriu onze Jogos Olímpicos.
Professor de história, Álvaro é reconhecido por seu profundo conhecimento dos jogos e pela memória certeira que aparece durante as transmissões em forma de dados, nomes e marcas de recordes. Pude constatar isso em sua narração e comentários no Meeting de Madri, Espanha, quando tive a honra de estar ao seu lado no BANDSPORTS.
Confiram o belíssimo relato publicado em seu blog no portal da BAND nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro:
Duzentos metros, duzentas emoções
Tão perto e tão intenso. E olha que vi e vivi muita coisa no esporte mundo afora. Tão intenso que as palavras que, normalmente são minhas amigas e chegam rápidas à minha cabeça como se alguém as soprasse, dessa vez demoraram. Quase uma eternidade.
Durante duzentos metros o símbolo maior dos Jogos Olímpicos estava ali, em minhas mãos. A luz do Olimpo, lugar dos Deuses onde surgiram os Jogos. A história em minhas mãos.
São apenas duzentos metros. A primeira imagem que me veio foi a de Pietro Mennea o italiano que derrubou a marca dos vinte segundos. A marca de 19,72 permaneceu como a melhor do mundo por dezessete anos, até 96. Isso lá atrás em 79 no México. Ele ganharia no ano seguinte a prova na Olimpíada disputada em Moscou. Foi o primeiro de muitos que me acompanhou nas minhas passadas.
Quando se transmite ou comenta mesmo uma final olímpica, claro que as emoções são intensas, mas a posição de observador, narrador e analista privilegiado coloca uma perspectiva diferente de quando você está protagonizando os acontecimentos. Mais alguns metros se foram.
Continuar correndo ou andar? Treino, logo consigo cumprir a distância sem problema algum, mas acelerar é algo que está, absolutamente, fora de cogitação. Quero cada um daqueles segundos de todas as emoções.
Todos os ídolos do esporte que tive o privilégio de ver. Todas as histórias, muitas delas heroicas e que não resultaram em medalhas, mas mostraram o valor do esporte, do espirito olímpico. Muitas delas até não me lembrava, mas chegam agora claras, limpas como se estivessem acontecendo naquele momento. Prometo não deixá-las escapar novamente e faço um acordo pedindo para seguirem comigo, pois as colocarei no papel. Eu aqui com a tocha na mão e pensando num livro.
Meus amigos do esporte que não estão mais por aqui também se fazem presentes. Luciano, Armando, Adhemar eles estão por aqui. Essa Olimpíada é deles. Os guardiões olham para mim e o fim está chegando. Não é possível, fui com certeza mais rápido que Usain Bolt, pois o tempo voou. Bati um recorde, mas não foi cronometrado, portanto não é oficial. O povo maravilhoso de Belém aplaude. Impossível não ficar com os olhos cheios d’água.
Acabou meu trecho, passo o fogo e minha tocha é apagada. Segue a chama olímpica e fico para trás. Minha tocha é guardada no ônibus dos condutores. Pessoas querem fotografar, uma entrevista aqui e ali e a volta a realidade que também é muito boa e emocionante.
Passado isso procuro o ônibus que não está mais ali. Ele não para a não ser na transição dos condutores da chama. Fiquei para trás. Agora é hora de correr. Ainda bem que treinei e estou em relativa forma. Pouco mais de um quilômetro adiante encontro meu transporte. Na hora de mais uma troca, quando ele para subo e sento em meu lugar. Impossível não lembrar todos os Jogos Olímpicos em que estive e a certeza de que o melhor ainda está por vir…
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