Como nasce um livro? 

Flora Pfeifer – chegada 5K Tribuna – Santos

Por trás da escrita de (um dos lados de) A Cabeça do Corredor 

Quando eu estava na faculdade de economia, comecei a estudar economia comportamental. Fiquei fascinada por este campo do conhecimento que discorria sobre como as pessoas decidiam, agiam e mudavam. Durante o curso, também entrei para a equipe de atletismo, na qual fazia as provas de meio fundo (800m, 1500m, 3000m…). Talvez por aprender as duas coisas ao mesmo tempo, talvez pelos esforço de trazer sentido ao que fazemos e ligar pontos em uma narrativa comum, o fato é que passou a ser natural para mim ver os paralelos entre os dois campos: o conceito sobre o comportamento humano que lia mais cedo era materializado na pista no treino das 17h, e dificuldades no processo de treinamento ou do convívio em equipe eram racionalizadas por explicações dos artigos. Ficava animada quando lia sobre uma técnica que poderia fazer sentido no contexto da rotina de treinos, e mais ainda quando a testava e funcionava. Uma coisa me ensinava a outra – o esporte virava laboratório e eu, sujeito experimental.

Nesse meio tempo, volta e meia escrevia um post para algum blog ou episódio de podcast falando sobre estes paralelos, já que a economia comportamental por si só era um assunto ainda muito novo, quanto mais sua aplicação na corrida. Um desses foi para o podcast do Balu, até então, conhecido do meio do atletismo da USP, e também curioso pela intersecção. Lembro de sair do nosso papo de mais de uma hora e meia com duas fortes sensações: primeiro, a agonia de ter falado de tantos temas de forma solta, e uma ânsia de organizá-los e encadeá-los; segundo, a de que tinha muito mais a ser falado (e mais perguntas ainda sem respostas a serem pesquisadas). Cheguei em casa, abri um documento no word, e anotei a arquitetura de todos estes tópicos: parte 1 – como começar a correr e ter uma rotina de treinos? Parte 2 – como desenvolver os aspectos mentais ao longo do treinamento? E parte 3 – como buscar a melhor performance em competições? Um plano para o livro estava feito, e eu adorava escrever – por que não? 

Mandei a ideia pro Balu, que já tinha experiência em outros livros sobre a corrida… e ele topou! Tenho a opinião de que, quando uma ideia acha um parceiro, o projeto nasce; ela deixa de ser hipotética e vira algo compartilhado no mundo. Foi assim que o livro começou, fantasiado de hobby e projeto paralelo, como um bate bola em câmera lenta. Íamos escrevendo aos poucos, conforme surgia um tempinho dentre as responsabilidades padrões da rotina. Pra ser sincera, escrever esse livro me ensinou muito – a gente aprende um certo tanto lendo, mas muito mais escrevendo para retransmitir esse conhecimento. A medida que treinava, conhecia outros atletas, competia maiores distâncias e vivia novas experiências no mundo da corrida, complementava os estudos e teorias com o percepções que a vivência (ou o “skin in the game”, como o Balu gosta de falar) trás, e era enriquecedor ter um lugar pra registrar tudo isso e acompanhar a evolução e aprendizados. O meu campo de conhecimento, mais da economia comportamental e da mudança de comportamento em saúde, teve um bom diálogo com o background do Balu, que vem da ciência do esporte, com um pé maior na fisiologia do exercício. Nunca imaginei que pesquisando sobre corrida aprenderia sobre o papel do canto dos passarinhos no nosso estresse, a história das prisões na Inglaterra ou o quanto a cafeína afeta o desempenho.

Um livro é pesquisado e imaginado, mas também é vivido

O que a gente descarrega na frente da tela do computador é o produto das experiências e informações que são absorvidas pelas nossas lentes de ver o mundo antes disso. Durante os dois anos e meio que passamos escrevendo o livro, corri meias maratonas e comecei a treinar competitivamente para os 5k e 10k, saindo das pistas e entrando no universo da corrida de rua. Comecei a treinar com o Wanderlei Oliveira, e a aprender o lugar da corrida também como uma ferramenta de filosofia, conexão e espiritualidade. Passei a trabalhar em uma função de ‘profissional de saúde’, conduzindo consultas como cientista comportamental com pacientes que estavam começando dietas ou querendo ajustar a rotina de treinos. Virei embaixadora de uma grande marca de tênis e conheci o mundo do marketing da corrida. Me aproximei de atletas profissionais brasileiros. Viajei para Budapeste para acompanhar o mundial de atletismo, e vi minhas ídolas de pertinho (com direito a autógrafo da Hassan, foto com a Faith e dar um hi-5 na Femke Bol!). Acompanhei as Olimpíadas de Paris (com direito a sentar do lado da Simone Biles e do Snoop Dogg em uma das sessões de atletismo) e corri a prova para amadores durante o evento! Conheci iniciativas que disseminavam o atletismo para as crianças com foco no desenvolvimento como pessoas. Virei consultora de mudança de comportamento em saúde, especializada na adesão à atividade física e bem-estar. Viajei para a Uganda e para o Kenya para conhecer o lar dos maiores corredores de longa distância do mundo, e passei um mês treinando com eles. Inclusive, foi lá que terminamos o livro, e também onde conhecemos o Hugo, autor de nosso prefácio. O Hugo, dono de onde nos hospedamos, era ex-maratonista profissional da Holanda, com personal best de 2h12, e hoje técnico de atletas profissionais, coincidentemente era um especialista na relação da mente e corpo, e pudemos ter profundas conversas sobre o tema na beira do Kerio Valley.

Por fim, engana-se quem acha que a escrita é feita no momento do papel e caneta (ou teclado) em mãos. É um processo um tanto quanto particular, imagino, mas boa parte do livro escrevi, bem, correndo. As palavras se encadeiam na cabeça conforme movimento o corpo, como uma engrenagem que funciona ao me deslocar, e o fio de pensamento consciente e deliberado vai se costurando e sustentando na memória a medida que os passos se alternam no chão. Ao parar, registro tudo como quem colhe frutas que caem das árvores aos montes, com cuidado pra não escapar nada, mas com a certeza de que escapou. Então o livro em mãos não só aborda o tema sobre a cabeça na corrida, mas literalmente é feito de registros dos processas cognitivos enquanto se corre… É, não teria jeito melhor de escrevê-lo! 

A Cabeça do Corredor, de Flora Finamor Pfeifer e Danilo Balu, será lançado no dia 01/02/2025, sábado, das 10h às 13h, na Velocità Moema (Av. Pavão, 342).

O link para a pré venda, para a retirada do exemplar no evento (autografado e sem frete!), já está disponível: https://forms.gle/WfNuHNYbWmfq7yLfA

Um segundo evento será realizado em Santos no dia 22/02/2025, local a confirmar. Compras pelo mesmo link acima. 

O link para a compra com entrega em casa ou e-book serão disponibilizados após o lançamento do dia 1. 

Wanderlei Oliveira

Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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Wanderlei Oliveira

 

Iniciou no atletismo em 1965. Já percorreu o equivalente à três voltas ao redor do planeta Terra. Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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