VIVA. É assim que me sinto no início desse ciclo. Grata por conviver com pessoas do bem e de coração expandido. Que essa volta ao sol seja de renascimento e saúde. Meu maior desejo é ter coragem para enfrentar tudo o que vier pela frente. E vamos celebrar a vida!
Sempre fui uma criança ativa, pratiquei diversas modalidades.
Dentre elas: ginástica olímpica (minha grande paixão até hoje), handball, futsal, jazz, street dance, natação.
Comecei a correr quando tinha uns 13, 14 anos. Ainda era novidade, quase ninguém sabia o que era, especialmente na escola. Eu fugia à regra.
Acho que comecei como a maioria, dando uma volta no parque e querendo aumentar a distância conforme o tempo. Hoje uma, amanhã duas volta…
Minha primeira corrida de rua foi na USP – Universidade de São Paulo, quando ainda existia a CORPORE – Corredores Paulistas Reunidos, e o lanche era uma banana e maçã, nada de nutelagem de hoje, como brinco.
Lá para 2015, 2016 descobri que a corrida era algo maior, quando comecei a participar de treinos coletivos.
Na faculdade, ajudei a criar o grupo de corrida de rua (Cásper Running). Nunca abandonei a corrida, mas neste período, eu competia natação pela Faculdade. E aí me desdobrava entre treino, aula e estágio.
A corrida foi muito forte quando morei fora.
Em 2016 me mudei para Bogotá, Colômbia, a trabalho, não conhecia ninguém. E foi por me juntar a um grupo de running que fiz amizades lá.
Curiosidades Colômbia: quando cheguei e olhei o MontSerrat, um pico com uns 3200 de altitude, disse pra mim mesma que iria subir correndo um dia. E fui, em 2017 antes de voltar ao Brasil. Além disso, fiz a Meia Maratona de Bogotá, e a Meia Maratona das Flores, em Medellín.
Quando voltei ao Brasil, imaginava que iria voltar voando, por conta da altitude, mas foi justamente o contrário. Cada dia mais sentia dificuldade, dores e limitações. Nunca soube descrever o que sentia, mas sabia que tinha algo de errado comigo.
Por quase um ano tive sintomas e diversos diagnósticos. Me falaram que era Bursite, Síndrome do Pânico. Fazia mil tratamentos e, ainda assim, correr 2 km era uma dificuldade que só.
Foi em outubro de 2018 que tive o diagnóstico de linfoma. Ao contrário da maioria, para mim foi um grande alívio. Finalmente eu sabia o que tinha!
Lógico, um diagnóstico desses nunca é fácil. A própria médica foi transparente: vai ser duro, seu cabelo vai cair, mas… ‘ano que vem você vai correr a São Silvestre’. Sem dúvida, essa sensibilidade e humanidade dela (Dra Thais) me fizeram encarar aquilo como um processo. Eu precisaria passar pelo tratamento para ficar bem.
Antes de começar, fui para praia para me energizar e começar com tudo, pois sabia que pisar na areia novamente ia demorar um bom tempo.
Meu tratamento foi quimioterapia + imunoterapia. Foram 6 ciclos, que na minha cabeça eu dividi em 1 prova de triátlon (meu sonho de vida sempre foi fazer essa prova. Nunca me coloquei prazo, mas estava na minha ‘bucket list’).
Mentalmente, dividi a quimio em 2 vezes natação; 2 vezes pedala; 2 vezes corre. Ainda é muito vivo na memória como me senti física e mentalmente em cada estágio. Acho que assim como no Esporte, foi um grande processo de resiliência e auto-conhecimento.
Durante o tratamento eu não podia correr nem nadar (inclusive, nadar só fui liberada ano passado, 2022, quando retirei o cateter que tinha na região do peito. Ai, como eu queria nadar!!) Porém, eu sempre fui muito ativa no processo.
Eu ficava 1 semana no hospital, pois minha quimio era contínua. Com isso, eu só tinha um corredor de 40 metros para caminhar, sem esquecer que tinha junto o ‘cachorrinho’, aquele aparelho que você fica conectada o tempo inteiro – inclusive para tomar banho é o maior contorcionismo, pois não pode molhar.
A quimio é um processo que se vive dia após dia. Tem horas que você está bem e outras não.
Tinha dias que caminhava 3 períodos; outros, não saia da cama. Tinha fisioterapia 2 vezes por dia. Outro fator que o Esporte me ajudou foi com a disciplina: eu tinha que me alimentar. Mesmo não querendo, comia porque queria me recuperar mais rápido. Depois de 6 meses entre hospital / casa/ hospital (havia intercorrências), voltei a rotina gradual com meu treinador.
Minha primeira prova pós tratamento foi o Centro Histórico, que eu amo! E sim, já comecei com 9 km de cara. Logicamente não corri direto, nem era a ideia, mas terminei a prova (lembrando como no ano anterior foi ainda mais difícil, por conta das dores).
No final do ano, fiz a São Silvestre. Minha família fez uma surpresa, foi até lá para torcer por mim, e meu coach correu a prova todinha ao meu lado Comecei 2020 treinando para voltar às meias, mas veio a pandemia.
Em 2021 me tornei ASICS FrontRunner
Em 2022 veio minha grande virada: a maratona de Paris!
NUNCA pensei correr os 42 km, sempre foi algo muito distante. Quase não aceito o convite, mas fui com medo mesmo. E garanto, foi a melhor sensação que tive na vida! Completar a prova me fez resgatar tudo que já vivi, um filme. Arrepio só de lembrar. E não vejo a hora de correr outra (e ainda assim, sigo com meu desejo de algum dia na vida fazer uma prova de tri).
Fernanda Marques, 29 anos, relações públicas, corredora e amante da vida (@femarquesporai)
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