Tudo é possível, acredite!

Esporte Clube PInheiros T&F – Caio Mecca

Meu nome é Caio, tenho 22 anos, sou natural de São Carlos no interior de São Paulo, atualmente eu moro em São Paulo.

Vou contar um pouco de como eu conheci a corrida e como Deus usou ela para salvar e mudar completamente minha vida.

Quando eu tinha em torno de 15 ou 16 anos eu tive meu primeiro contato com a corrida, na época o que me instigou a começar a correr era a vergonha do meu corpo e os comentários que faziam sobre ele (porque eu era meio gordinho), então comecei a correr, 1 km, 2 km todos os dias, e foi então que eu ganhei meu primeiro par de tênis de corrida do meu pai, me lembro até hoje, era um Nike LunarEpic Flyknit, e foi então que me empolguei, comecei a me aventurar para distâncias maiores até uma época que me lembro que minha meta era correr 10 km todos os dias, e foi assim por um bom tempo.

Nessa mesma época minha escola ia participar de um evento que chama Cooperatividade, que aconteceria no SESI de São Carlos, lembro que alunos de todas as salas se inscreviam para qual esporte gostariam de competir e a escola selecionava, e eu resolvi me inscrever nos 400 metros e nos 100 metros sem nem sequer saber se iria ser selecionado, até que na mesma semana o professor de educação física na época chamou eu e um outro menino e disse que nós dois íamos ser os corredores pela escola, na hora fiquei feliz mas ao mesmo tempo não sabia como iria ser porque eu corria apenas sozinho nunca tinha tido contato com uma competição ou com pistas.

Até que chegou o dia, a primeira prova foi a dos 400 metros, me lembro de largar na raia 1, sem entender porque eu estava em último porque nunca tinha tido contato com atletismo. Por fim eu consegui ganhar a prova dos 400 metros e havia ficado muito feliz, porém meu tênis no meio da prova rasgou, ainda havia os 100 metros, eu procurei por todos os meninos para ver se alguém poderia me emprestar o tênis para competir e ninguém me emprestava, até que eu vi um amigo com uma chuteira, e ele acabou me emprestando a chuteira para correr, eu acabei escorregando na largada e cheguei em segundo lugar nos 100 metros, e esse foi o primeiro contato que eu tive com qualquer tipo de competição relacionada a corrida. E também foi minha última por um longo período de tempo…


Eu acabei na época entrando na febre da academia e queria me tornar fisiculturista, treinava de segunda a segunda, dieta regrada, rotina. Digo que esse período foi bom pra mim porque eu aprendi a ser uma pessoa disciplinada, nesse mesmo período de academia eu quebrei o braço, a mão, machuquei o ombro, o que acabou me desanimando muito para treinar, porque meu corpo já não respondia da mesma maneira, a força dos meus braços, a assimetria enorme que essas lesões haviam causado nos meus músculos, então eu abandonei o sonho do fisiculturismo, além do porque havia muitas questões que eu não aprovava nisso tudo.


Com o passar do tempo, durante todo esse período eu namorava, estava num relacionamento durante todo esse tempo, das corridas, academia, e aconteceu que terminamos, e eu não soube lidar com isso, entrei em uma profunda depressão e acabei tomando o caminho errado, fui em busca de algo que pudesse preencher meu vazio, drogas, álcool, festas, e por um longo período eu me deteriorei com isso, havia me tornado um dependente químico, ficava 3,4 dias virado, com alguns parceiros numa cobertura, usando cocaína dia e noite, me encontrava num ciclo vicioso de usar, me envergonhar de ter usado, e usar mais ainda pra sair da minha realidade, comecei a furtar dinheiro do meu avô escondido, manipular meu pai para me dar dinheiro, comecei a fazer de tudo para conseguir usar, havia esquecido de quem eu era, não me importava mais com ninguém, apenas a droga, durante esse tempo de uso desenfreado de drogas e conheci a mulher que eu estou hoje, porém alguns meses após eu conhecê-la e nós começarmos a ficar juntos, minha família preferiu intervir com um resgate para uma Clínica de Reabilitação, fiquei em tratamento durante 11 meses lá. E quando saí resolvi ir atrás de tudo que eu havia perdido, primeiro fui atrás de resolver todas as pendências que eu havia deixado pra trás e me retratar com todas as pessoas que eu havia prejudicado, primeiro a minha família, depois minha namorada, durante um ano eu fiquei limpo de qualquer uso de drogas ou álcool,  mas eu ainda não tinha aprendido a lidar com as frustrações… E em uma dessas situações eu corri de novo atrás da droga, e como costumávamos dizer na Clínica, “se voltar ao uso o prejuízo é maior”, e dito e feito foi o pior ano da minha vida, eu acabei com tudo que tinha começado a reconstruir nessa recaída, machuquei as pessoas que eu amo e perdi a confiança delas, eu trabalhava de auxiliar administrativo da empresa da minha família, e eu comecei a furtar todos os cheques de pagamento e depositei em minha conta num surto sob o efeito de cocaína, e nessa mesma semana eu gastei mais de 5 mil reais em drogas e meu propósito era colocar um fim no problema, tentei tirar minha vida com essa quantidade de drogas, mas em meio a isso tudo, antes que as coisas pudessem chegar ao extremo, eu tive um momento de lucidez em que eu consegui pedir ajuda para me internar de novo para o meu pai.

Sem forças, sem esperanças, sem visão para o futuro, absolutamente destroçado fisicamente, psicologicamente, espiritualmente. E dessa vez eu jurei pra mim mesmo, me compromissos comigo mesmo que as coisas jamais iriam ser da mesma maneira, eu estava cansado de sofrer e fazer as pessoas ao meu redor sofrerem, eu queria me tornar alguém que eu me orgulhasse de ser, porém havia um empecilho, eu não sabia por onde começar e eu não tinha forças para começar, até que dentro dessa clínica eu tive o maior encontro que eu poderia ter, me encontrei com Deus, por meio de um homem que ele usou para me instigar a começar a conhecer a Bíblia, e assim foi, me rendi e me entreguei a esse Deus que ele dizia e resolvi pedir forças… Daí em diante minha vida mudou, não apenas em uma área,  mas em todas, Deus me fez enxergar coisas que eu não via mais, me restaurou completamente, durante esse tratamento eu me compromissei todos os dias, orar, meditar e conhecer mais e mais a Deus e o que ele poderia fazer. Ao longo dos meses em que fui recuperando minha força física eu resolvi me aventurar na academia de novo, comecei a treinar bastante, melhorar meu físico, sem nenhum objetivo em especial, porém durante um jogo de futebol na Clínica acabei quebrando minha mão, mas como não queria parar de fazer esporte, eu cortei o gesso de uma forma em que eu conseguia dobrar meu cotovelo, para fazer o movimento do balanço do braço para correr, e foi então, que tudo mudou (até hoje eu acredito que Deus me permitiu que eu quebrasse o braço para descobrir a corrida).

Então comecei a correr, primeiro por alguns minutos, depois meia hora, uma hora, até que quando eu vi ficava 2,3 horas correndo ao redor da Clínica,  para me exercitar e passar o tempo, nisso tudo minha família me apoiou em todas as fases, meu pai quando eu disse que estava correndo ele me mandou meus tênis e até o smartwatch dele, um Gear S3 da Samsung, para que eu pudesse melhorar na minha corrida, eu corria quando acordava, corria a tarde, corria as vezes a noite.

Não existia tempo ruim para mim, correr se tornou minha paixão.

Até que certo dia, um dos funcionários da clínica que também corria, me parou enquanto eu estava correndo, e perguntou se eu tinha interesse de ir numa prova, numa competição, ele se dispôs a conversar com a administração e com os coordenadores, para que eu pudesse sair e participar de uma prova na cidade, como eu já tinha há alguns meses uma escala de confiança, eles permitiram, então eu comecei a treinar dia e noite para essa prova de 5 km, até hoje me lembro Fresh Run Muffatto 2023. Fiz a prova em 21 minutos e acabei sendo segundo colocado da minha categoria, e foi então que o amor pela corrida começou a crescer. E eu já estava no final do meu tratamento que durou 9 meses, eu fumava no início do tratamento cerca de 2 maços de cigarro por dia (40 cigarros), e ali estava eu correndo, consegui parar de fumar com uma estratégia que eu havia criado, me comprometi a cada vez que eu quisesse fumar eu ia orar pedir forças a Deus e ler a Bíblia, e segui fazendo, até que a vontade não vinha mais e eu havia conseguido parar. Tudo que eu pensava era que quando eu saísse essa seria minha forma de me manter limpo, corrida e oração, seria eu e Deus por onde ele me levasse. Eu tive permissão para voltar para casa durante os 3 meses finais do tratamento para me habituar em viver em sociedade de novo, nessas saídas eu voltei a falar com minha namorada (que me acompanhou durante todo o tratamento), restaurei meu relacionamento com minha mãe que me apoiou também e todos esses momentos.


Algum tempo depois, que eu já havia saído da clínica e já estava caminhando melhor, meu pai havia me dado um voto enorme de confiança para eu voltar a trabalhar na empresa com ele. Então eu corria antes do trabalho ia pra casa tomava banho e já tinha que ir, e por um mês foi dessa forma, até que em dezembro de 2023 minha mãe ficou sabendo de um emprego como cuidador de uma Residência Terapêutica,  então eu abracei a oportunidade, conversei com meu pai, ele me deixou sair da empresa e eu fui, minha mãe e eu dizíamos todos os dias que esse trabalho foi uma porta que Deus havia aberto para mim, e de fato era, turno 12×36 noturno, eu conseguia fazer todos os meus treinos, saía do turno e ia treinar, nas folgas também, mas chegou um momento que eu gostaria de ser melhor, de me aperfeiçoar, então fui atrás com minha mãe de alguma assessoria ou treinador, minha mãe sempre amou correr então ela já conhecia melhor as pessoas e treinadores, minha mãe na hora pensou na Mariana Ohata, Atleta Olímpica, que tem a equipe de assessoria OhataColucci. Então minha mãe conversou com a Mariana e ela marcou um teste de 3 km para mim, meu primeiro teste, lembro como se fosse hoje minha ansiedade, para mim era como se eu tivesse uma corrida no próximo dia.

Então fui fiz o teste e iniciei meu treinamento com a Mariana, e durante todo o ano de 2024 eu treinei e representei a equipe OhataColucci com muito orgulho, fiz diversas provas na minha cidade com a Mariana, e eu tinha/tenho ela como mãe, ela sempre vibrou com todas as minhas vitórias, sempre exigiu o melhor de mim, e me apoiou em todas as minhas provas e escolhas dentro do esporte. Minha namorada, minha família, meu pai, minha mãe, meus avós, minha tia, meu irmão, meu padrasto, todas essas pessoas apoiaram de diversas maneiras para que eu pudesse chegar onde eu estou hoje, que eu creio que não é nem metade do que o propósito de Deus tem pra mim, competindo com a Ohata na cidade de São Carlos eu conquistei diversos pódios por categoria e geral, com orgulho eu digo que todas minhas provas foram para Deus, porque se eu correr o mundo todo vai ser pouco para o que ele fez, de onde me tirou e o que vem fazendo na minha vida, devo tudo a ele. Ao longo desse ano eu decidi que iria me mudar para São Paulo com a minha namorada, nós sempre moramos longe então surgiu uma oportunidade para eu ir, então eu abracei, pedi muito para Deus que a provisão necessária fosse me dada porque eu não tinha condições,  o estilo de vida é caro, e eu nem emprego certo tinha em São Paulo, mas eu fui, confiei que Deus iria me sustentar e cuidar de tudo. Eu estava com todos os meus tênis desgastados, foi então que minha mãe me ajudou a comprar um par e meu pai e minha mãe dividiram o outro par, para que eu viesse para São Paulo com novos equipamentos, porque eu não tinha condições para comprar.

Um pouco antes de vir para São Paulo eu havia dito para Mariana que eu queria me tornar corredor profissional, e que eu faria de tudo para isso, abriria mão do que fosse necessário e apostaria todas as minhas forças nisso, e a Mariana me deu total apoio nisso, foi então que ela disse que confiava apenas em uma pessoa para me coordenar nos treinos e no caminho para o profissional, Wanderlei Oliveira, uma pessoa que eu conheço a pouco tempo mas que tem um coração enorme, e que vem acreditado e me apoiado nos meus sonhos, meu amigo, meu atual técnico e que coordena meus treinos em São Paulo, fazem 3 meses que eu estou em São Paulo e a experiência tem sido maravilhosa e suada de treinar com ele, fiz minha primeira prova com ele de 5K há algumas semanas atrás e foi minha primeira em São Paulo, consegui ficar no pódio (quinto lugar geral), bati meu RP nos 5K nessa prova.

Na semana seguinte, minha mãe me inscreveu na Corrida São Silvestre, como um presente para ela e pra mim, um sonho dela e meu que compartilhamos, e eu devo tudo isso a Deus, todas as portas que me abriu, tudo que me tem feito, e tudo que preparou para estar vivendo isso hoje, nunca imaginei que eu pudesse estar contando minha história mas sempre foi um sonho meu também poder contar meu testemunho de como Deus usou a corrida para me livrar do inferno que eu vivia, e deixar apenas a mensagem de que ninguém é uma causa perdida, não para Deus, por mais profundo que esteja o buraco que você se encontra, por mais que seja difícil enxergar esperança nessas situações, creia que as coisas vão melhorar, nenhuma fase dura para sempre.

Caio Mecca: Instagram @caiocmecca

Wanderlei Oliveira

Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

2 comentários

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  • Eu conheço a história , mas já li várias vezes !
    É como uma oração para mim.

    Ler e ver de onde Deus te tirou e onde te colocou , com muito esforço e dedicação de sua parte ! Mas quando entrega a vida a ele o sucesso é garantido!

Wanderlei Oliveira

 

Iniciou no atletismo em 1965. Já percorreu o equivalente à três voltas ao redor do planeta Terra. Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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