Tem que treinar!

Benedicto Cruz de Macedo

O ano era 1938. Corrida rústica. Corrida de rua.  Ele vinha com passadas firmes para a vitória, 15 quilômetros depois da largada. Mais uma entre tantas. Ganhou o tricampeonato como soldado, levando o troféu em definitivo para onde servia no Exército: a Fortaleza de São João, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro. Disputou campeonatos de atletismo pelo Flamengo. Dia de competição o rango era reforçado: pão com ovo frito…
Me ensinou a nadar aos seis anos de idade, nas águas calmas da praia da Urca, onde regularmente ele atravessava a nado até a praia do Flamengo, lá do outro lado.
Esse era meu pai, Benedicto Cruz de Macedo.

Ouvia suas histórias e me inspirava. Parei de fumar quatro maços de cigarros, por dia, em 1983 e resolvi correr uma longa distância, a famosa e pioneira Maratona Atlântica Boavista.
O início de treinos do tipo “vai que dá”, sem nenhuma experiência em corridas, foi muito difícil. Meus pulmões ardiam. Eu cuspia mucos a cada quinhentos metros. As pernas falhavam, mas eu estava determinado. Exagerando num dos treinos estourei o joelho. Corri toda a Maratona com agulhas de acupuntura fincadas no joelho e cheguei capengando depois de mais de quatro horas. Mas terminei orgulhoso do desafio cumprido.
Essas agulhas foram como picadas da mosca real! Nunca mais parei e nunca mais fumei.
De lá para cá foram incontáveis provas de 10 km, Meia Maratonas e Maratonas completadas. Somente em Nova Iorque, onde residi por muito tempo, foram 8 maratonas cujo percurso passa pelos cinco bairros da Big Apple.

A VIRADA DE CHAVE

Em 1988, antes de uma prova no Rio, no aquecimento, perguntei ao Rodolfo Eichler, corredor muito experiente, quem seria um bom técnico para me treinar em São Paulo, onde residia naquela época. Ele me apresentou, naquele momento antes da largada da prova, ao Wanderlei de Oliveira, que eu conhecia de vista nas rodagens pelo Ibirapuera.
E lá fui eu dar tiros de 400 metros, 1.000 metros e 2.000 metros, rodagens, longas, pela primeira vez, num treino estruturado.
Em 1990, escolhi a Maratona de Blumenau para “testar as águas” ou melhor “testar o asfalto” …
Estava afiado e os exigentes treinos do Wanderlei fizeram valer meu recorde pessoal: 3h29min com um ritmo de 4m58s por km!
Veio em sequência um tempo de 3h30 na duríssima Maratona de Nova Iorque, numa época que não existia chip, ou seja, podemos considerar um tempo líquido de 3h27, por aí.

A TERCEIRA GERAÇÃO DE ATLETAS

Amanda Brambilla Macedo

O ano era 1994 e nascia no Metropolitan Hospital Center, no Harlem, em Nova Iorque aquela que seria a razão da minha existência: Amanda Brambilla Macedo, minha filha adorada!

Aos quatro anos ela começou a treinar com o Wanderlei de Oliveira e continua até hoje com seus 30 anos, mesmo morando na cidade Luz, Paris, França. São vinte e seis anos de muitos pódios, campeã na categoria, campeã na geral, medalhas, troféus e alegrias sem fim, tudo isso sustentado por muito suor nos treinamentos diários.

UM TÉCNICO PRA LÁ DE DEDICADO…

Depois do meu pai, Wanderlei é a minha grande inspiração no esporte. Dedicado ao extremo, exigente, competente e muito consciente do que é o melhor para cada atleta, ele mesmo é um corredor “sem freios” há vários anos com milhares de quilômetros acumulados em suas pernas.
Wanderlei, hoje, é um grande amigo de quem me orgulho muito de compartilhar da sua amizade.
Seu mantra é: tem que treinar!
Realmente, sem treino seja em qualquer área, ninguém chega a lugar algum. Tem que treinar! Tem que treinar!
Tem que treinar!!!

Aroldo Macedo, 75 anos, foi o primeiro modelo negro do Brasil, criador e diretor da Revista RAÇA Brasil, recentemente lançou o livro “Toda a verdade por trás do sucesso da Revista RAÇA Brasil” @aroldo.macedo.3

Wanderlei Oliveira

Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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Wanderlei Oliveira

 

Iniciou no atletismo em 1965. Já percorreu o equivalente à três voltas ao redor do planeta Terra. Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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