A história de Edgard Freire no esporte começou em 1953, quando viu um anúncio de um clube no jornal selecionando atletas para compor sua equipe de atletismo. Ainda que o futebol fosse na época seu esporte favorito, o recorde mundial de Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo nos Jogos Olímpicos de 1952 acabou lhe mostrando um caminho a ser seguido. E o fato de vencer praticamente todas as provas que participava quando servia o Exército era motivo mais do que suficiente para acreditar que o atletismo era a escolha certa para alguém que corria atrás da fama.
As primeiras provas logo mostraram que o sonho de Edgard estava bem perto da realidade. Em 1954, seu nome já estampava as páginas dos jornais com um honroso segundo lugar na Corrida Internacional de São Silvestre, melhor qualificação de um brasileiro depois que a prova foi aberta à participação estrangeira.
Edgard participou ainda de sul-americanos e pan-americanos e só não representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1956 porque se machucou às vésperas das eliminatórias. Isso sem contar que foi o primeiro atleta brasileiro a quebrar a barreira dos 15 minutos nos 5.000 metros, em 1963, com 14min55s, prova que lhe rendeu o recorde brasileiro, além de ser recordista sul-americano e brasileiro do revezamento 4 X 1.500 metros no mesmo ano.
Mas aquele que sempre foi reconhecido como a “Locomotiva Paulista” deixou o atletismo no auge da carreira, em 1963, para retomar os estudos. Fez supletivo e, aos 42 anos, prestou vestibular para Biomedicina. Seis anos depois estava formado e já dando aulas de Fisiologia para o curso de Medicina e Enfermagem, Ortóptica e Fonoaudiologia da Universidade Federal de São Paulo. Aos 58 anos, tornou-se mestre e passou então a ministrar aulas para o curso de pós-graduação da mesma universidade, atividade que mantém até hoje.
A história do mito Edgard Freire no atletismo bem que poderia parar nos anos 60. Mas uma iniciativa do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte (Cemafe), em parceria com o Grupo Pão de Açúcar, em 1994, trouxe-o de volta num projeto científico na época um tanto quanto audacioso: provar que alguém com 64 anos, levando uma vida completamente sedentária há 30 anos, poderia enfrentar o desafio de correr uma maratona. Cercado de todos os cuidados possíveis e sob a orientação de profissionais experientes (como Turíbio de Leite Barros, Renato Lotufo, Antonio Masseo de Castro, Sérgio Tebexreni), um ano depois, em 1995, Edgard completou sua primeira maratona em Nova York, como o tempo de 4h32. No ano seguinte, o acompanhei na mesma maratona para 3h53, na qual foi destaque com direito a entrevista na emissora local.
Em 1999, em comemoração ao 30º aniversário da Maratona de Nova York, Edgard foi escolhido pela organização do evento para carregar a bandeira brasileira na solenidade de abertura do evento, na frente da sede da ONU.
Aos 75 anos, correu a São Silvestre para festejar os 50 anos do vice-campeonato, conquistado em 1954. Edgard foi por três vezes o melhor brasileiro na prova (em 1953 o quinto, em 1954 o segundo e 1957 o sétimo).
* O relato da história do mito é da jornalista Fernanda Paradizo.
Adicionar comentário