Correndo com Abílio Diniz

Aos dezoito anos de idade, era um velocista.

Queria fazer tudo rápido e ainda achava que estava devagar. Isso era consequência do tipo de prova que competia, os 200 e 400 metros rasos. Foi nessa ocasião que resolvi lançar um desafio. Projetei a minha primeira maratona para os 32 anos de idade. Acreditem, em Nova Iorque.

Como iniciei na prática do atletismo no ano de 1965, em 1991 já teria 26 anos de treinamento. O suficiente para vencer os 42.195 metros, sem choro.

A preparação para a maratona foi uma lição de vida.

Aprendi a planejar, ser persistente, ter paciência e o mais incrível que possa parecer: – correr devagar. Foram 210 minutos em movimento constante, ou seja, 105 repetições de 400 metros para 2min00, sem intervalo.

Desde então lá se foram 24 maratonas: 10 vezes a Maratona de Nova York (3h14 em 1999), 7 vezes a Maratona de Paris (3h07 em 2000 a melhor), 5 vezes a Maratona de Roterdã (3h10 em 2004) e 2 vezes a Maratona de Chicago.

Pão de Açucar Club – o primeiro clube empresa do Brasil

Em 1986, fui convidado pelo professor Mário Moniz Pereira, técnico do Sporting Club de Portugal para ser seu assistente no Estádio José Alvalade, em Lisboa. Nessa época a equipe do Sporting era uma das melhores do mundo em provas de meio fundo e fundo com os recordistas mundiais Fernando Mamede, 27 minutos e 13 segundos nos 10.000 metros e Carlos Lopes, recordista mundial da maratona (42.195 metros) com 2 horas e 7 minutos, além de vários atletas que despontavam para o cenário mundial na época com os irmãos Dionísio e Domingos Castros.

Após os Jogos Olímpicos de Seul, na Coréia, em 1988, retornei ao Brasil e apresentei no marketing do Grupo Pão de Açúcar um projeto para a criação do primeiro clube empresa no Brasil. Por três anos não tive nenhuma resposta.

No ano de 1989, treinava um grupo de atletas no Esporte Clube Pinheiros para a Maratona de Nova York, a Ana Maria Diniz, a primeira filha do Abílio Diniz, me procurou para treiná-la para a maratona no ano seguinte. A família Diniz sempre foram sócios do Esporte Clube Pinheiros. Por um ano a Ana Maria Diniz treinou para a maratona de Nova York, completando em 4 horas e 30 minutos. Ela foi a primeira brasileira executiva a participar da famosa maratona e a primeira da Família Diniz, em 1990. O Abílio Diniz já corria há vários anos.

O sucesso da Ana Maria Diniz, despertou o interesse do seu irmão João Paulo Diniz a também treinar para a maratona de 1991, que também foi a minha estreia. Ele com 26 anos e eu com 32 anos, fizemos juntos e concluímos em 3 horas e 30 minutos.

Ao chegarmos no quarto do hotel, o João Paulo estava ansioso para dar a notícia que tinha corrido muito bem a maratona. Ele disse: pai, essa prova é maravilhosa, você tem que correr um dia. O Abílio, respondeu: fico feliz por você ter conquistado um excelente resultado, fruto da sua dedicação, disciplina e persistência. Se o esporte, em especial a corrida é boa para nós, por que não a levamos para os nossos amigos e funcionários?

O projeto já tinha em mãos. Apresentei para a Ana Maria Diniz, que tinha assumido a diretoria de marketing que levou ao presidente do Grupo Pão de Açúcar. No primeiro dia de janeiro do ano de 1992, em reunião especial na sala do Abílio, foi oficializado a criação do primeiro clube empresa do Brasil.

O Abílio Diniz, correu três maratonas em Nova York. A primeira em 1994, aos 57 anos, em 4 horas e 30 minutos; a segunda em 1995, e a última aos 60 anos em 1997, a melhor de todas.

Nas três eu o acompanhei do início ao fim como “coelho”, marcador de ritmo. Foi um sucesso!

Ao longo dos anos, chegamos a levar mais de 1.500 funcionários para correr a Maratona de Nova York. Eles eram selecionados pela sua regularidade aos treinos e participação em provas. O tempo mínimo de treinamento era de dois anos com participações em dez provas de 10 quilômetros e quatro provas de 21 quilômetros. Eles viajavam quatro dias antes da prova para aclimatação, ficavam em hotéis de luxo, com toda equipe de suporte: médicos, nutricionistas, treinadores, massagistas.

A convocação era feita com uma carta especial assinada pelo Abílio Diniz, elogiando o funcionário pelo seu empenho e dedicação ao longo do ano e finalizava dizendo: – estaremos juntos em Nova York para enfrentar o desafio da Maratona (42.195 metros).

O que eu admirava no Abílio Diniz era o seu modo de enfrentar a vida, sempre com objetivos definidos, coragem, determinação, disciplina, mas o principal de tudo era a sua fé, humildade e respeito ao próximo.

Sou eternamente grato ao Abílio Diniz por vivenciar esses momentos especiais!