O Leão das pistas

Foto: Nilton Maia (@niltonemaia) – Darci Leão Pereira – EEFPMESP

Em 1969, conheci o Darci Leão Pereira, no Campeonato Brasileiro de Atletismo vencendo os 800 metros. Corria fácil, flutuava, parecia que estava brincando. Virei seu admirador. Eu com 10 anos, corri atrás dele para pedir um autógrafo. Ele sempre bem humorado disse: – garoto, segura minhas sapatilhas que vou dar uma entrevista e já volto, não vai fugir que eu te pego.

Conheça a história de superação contada pelo Rei Leão.

Foto: Nilton Maia (@niltonemaia) – Darci Leão Pereira – Reinaldo Sange – EEFPMESP

“Aos meados de 1945, dia 18/01/1945 veio ao mundo o bebê, para a felicidade da família dos Leões me colocaram o nome de Darci Leão Pereira. Natural do pequeno município de Pongai São Paulo, filho do Raimundo Leão Pereira e Elvira Pereira de Souza. Quando pequeno meus pais mudaram para a cidade de Pirajuí, interior de São Paulo.

Na infância não tive a companhia do meu pai que nos deixou com minha mãe e mais seis irmãos menores a Deus dará, na infância ajudava a minha irmã e irmão na colheita do café e mamonas nos sítios vizinhos. Minha mãe não sabia ler e nem escrever, mas mesmo assim ela conseguia nos encaminhar para a escola Grupo Escolar Olavo Bilac.

Para manter o sustento de meus irmãos menores eu buscava sobras de comida, que os moradores da cidade guardavam para nós, o meu irmão mais velho era como um pai, ele trabalhava como saqueiro, conhecido hoje como chapa. Quis o destino com este serviço que ele sofresse uma torção no pescoço. Não foi tratado como deveria, virou câncer. Nesta época eu e outro irmão Oscar já trabalhávamos para o sustento, mesmo pequeno eu apanhava laranja, ferro-velho e jogava no time de várzea do Bruno, que por jogo de me dava 2 galinhas.

Como eu corria muito tive o incentivo do Professor Sergio Cipriano e Osvaldo Barros o Bolão, que me iniciaram no atletismo.

Aos 18 anos entrei para o Serviço Militar, antes eu jogava no time da cidade futebol e corria no estádio da cidade. Como havia dito anteriormente, meu irmão contraiu o câncer, minha irmã casou o outro irmão foi embora, sobrou para eu cuidar de minhas duas irmãs. Mas mesmo assim comecei a gostar de praticar atletismo junto com o futebol de campo.

Com o passar do tempo o Bolão e o Sergio fizeram com que eu me dedicasse só ao atletismo já que os mesmos viam em mim um potencial, mas a dificuldade continuava já que eu precisava cuidar da casa e do meu irmão que estava enfermo e não trabalhava. Consegui me destacar na cidade e região, existia no estado os jogos noroestinos de Pirajuí e a participar e como tal me escolheram para representar a equipe nos 800 metros e revezamento 4x400m. Tinha um problema, não possuía tênis e nem sapatilha, a solução me deram um tênis Bamba foi a coisa mais linda do mundo, dormi com ele, até hoje me lembro, calcei o tênis olhei para o alpargatas e voei, não sabia se corria ou olhava para os pés, me sentia a própria felicidade, no dia da prova outra surpresa, ganhei uma sapatilha de pregos enormes, quando coloquei nos pés sentia que era uma gazela.

Moral da história: – venci os 800 metros e os 400 metros resultados esses que despertou o interesse de varias equipes do Estado de São Paulo.

As dificuldades de família eram amenizadas já que eu passei a trabalhar na prefeitura e toda sobra de comida eles me doavam. Participei de vários jogos regionais, jogos abertos do interior, troféu bandeirantes, troféu Brasil… Com títulos em todos os torneios despertaram o interesse de varias equipes do Brasil.

Em 1968 me transferi para o São Paulo Futebol Clube onde passei a treinar com o Sr. Nelson Pereira um dos grandes treinadores.

Nessa época conheci o jovem que de inicio já demonstrava seu grande interesse pelo atletismo, desse encontro surgiu o grande Wanderlei Oliveira, que se tornaria nos dias de hoje referencia em treinamento de longas distancias.

Voltando nos anos 1968 a 1970 conquistei o recorde brasileiro, campeão do Troféu Brasil, campeão Brasileiro, campeão Sul Americano nas competições de 800 metros e 1500 metros. Os treinamentos eram realizados no estádio do Morumbi, quase sempre à noite porque de dia trabalhava no Bradesco na cidade de Deus.

Em meados de 1970 representando o Brasil em varias competições, Luso brasileiro em Brasília na sua inauguração, em 1974 na inauguração da pista do Estádio Ícaro de Castro Mello, no Conjunto Desportivo Constânio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, Brasil e Suécia (pista de tartan). Nessa época eu já pertencia à equipe do São Paulo, tendo me ingressado na equipe da policia Militar do Estado de São Paulo que era o Grêmio. Já existia uma grande equipe comandada pelo jovem tenente PM Sebastião Corrêa de Carvalho ao qual nos conduziu com bravura e determinação, junto com José Romão Andrade da Silva, um dos grandes atletas do momento, Aloísio de Araujo, Sargento Caetano, Nelson Gomes e muitos outros que contribuíram para tornar a equipe de atletismo a melhor do Brasil. Nessa época além de competir nos 800 metros que era a minha prova também ajudava a equipe nos 1500 metros, 5000 metros, revezamento 4×100 metros, 4×400 metros.

Era prazeroso defender esta equipe

Anos se passaram e fui me tornando absoluto nos 800 metros e 1500 metros triunfando por vários anos nessas provas, com participações nos Jogos Pan Americano, em Cali, na Colombia nos (800 metros e 1500 metros) e Pan Americano no México (800 metros e 1500 metros), fui bi campeão do troféu Orlando Guaita em Santiago do Chile, também bi campeão da volta Cidade de São Paulo. A equipe da Policia Militar conquistou duas vezes está volta que passava por vários bairros e chegava ao marco zero na Praça da Sé.

Em 1974 nos Jogos Pan Americano do México foi quando o meu amigo João do Pulo bateu o recorde mundial do salto triplo.

Foto: Nilton Maia (@niltonemaia) – Darci Leão Pereira – EEFPMESP

Poucos sabem, o mesmo era meu amigo eu coloquei o apelido nele por coincidência havia dois Joãos um do salto em altura e do salto triplo. Como eu tinha a mania de atleta eu carregava um vidro com óleo, sal e vinagre, nesse dia o João do pulo estava com dor e eu falei: – João passa este óleo que tenho, ele meio reticente não queria usar, porém convenci vái lá da um salto só. 

Eu gritava ao João com tudo e não deu outra, no momento foi só euforia e ele me prometeu a sapatilha dele, mas não consegui, fiquei na saudade. Após os jogos segui caminhos diferentes na minha vida, tinha concluído o curso de Educação Física e minha vida profissional chegou ao fim.

Quando vim a São Paulo conheci vários treinadores, como Pedro Henrique Camargo de Toledo (Pedrão) Professor Jarbas e Professor Nelson ambos os treinadores do esporte clube Pinheiros. Um dos episódios que nos causou tristeza foi quando o amigo João do Pulo sofreu aquele acidente, horas antes eu havia encontrado com o mesmo no Glicério, eu ia para o quartel 1º BPM e ele me ofereceu uma carona no seu Passat creme, ele muito feliz estava um dia chuvoso era sábado João tinha comprado presentes para seus familiares e a companheira, e depois ia para Pindamonhangaba na casa de seus pais. Ele ao chegar ao quartel tinha tomado alguma bebida entrou direto no portão e foi advertido pelo sentinela, virou o carro e saiu, despedi dele, o mesmo disse que ia a Campinas encontrar com a Odete e Conceição  Geremias toda turma que eram amigos nossos. Quis o destino que aconteceu tudo aquilo que nós já sabemos sobre o acidente”.

Há muita história a ser contada, mas o importante foi relatado no puxar da memória, mas não parei com o esporte, pois está no meu DNA, todos os dias mesmo com algumas lesões tento me manter ativo através deste imbatível e companheiro de longas datas o Wanderlei de Oliveira o papa léguas dos Km“.

Darci Leão

Foto: Nilton Maia (@niltonemaia) – Darci Leão Pereira – EEFPMESP

1969 – Vice-campeão Sul Americano dos 800 metros – Quito – Equador

1970 – Recordista do Troféu Brasil nos 800 metros com 1’51”7 e recordista estadual

1971- Vice-campeão mundial das forças armadas – Finlândia

1971- Finalista dos Jogos Pan-americanos – Colômbia

1971- Recordista Brasileiro dos 800 metros com 1’49”5

1971- Campeão do Troféu Brasil dos 800 e 1.500 metros

1974- Campeão Sul Americano dos 1.500 metros – Chile

1974- Campeão Universitário dos 800 metros

1975- Finalista dos Jogos Pan-americanos nos 800 metros – México

1976- Campeão dos 800 e 1.500 metros (3’55”6) do Torneio Orlando Guaita – Chile

1976- Campeão do Troféu Brasil nos 1.500 metros (3’46)

1977- Campeão dos 5.000 metros do Campeonato Brasileiro

1978- Campeão do Troféu Marco Zero de São Paulo

1979- Bi- Campeão do Troféu Marco Zero de São Paulo

1997- Campeão da Meia Maratona Speed Stick – categoria 50/55 anos

1998- Campeão do II Troféu Cidade de São Paulo – categoria 50/55 anos

Wanderlei Oliveira

Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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Wanderlei Oliveira

 

Iniciou no atletismo em 1965. Já percorreu o equivalente à três voltas ao redor do planeta Terra. Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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