No domingo, dia 11 de junho, fui à cidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul para correr os 21 quilômetros que seria a minha 93ª vez que completaria essa distância depois de 34 anos da primeira participação na Meia Maratona de Itapira, interior de São Paulo, na qual fui o último colocado com 2 horas e 10 minutos. Se em 1983 foi um desafio, todas as outras que seguiram eu estava preparado. O melhor resultado foi em 2004 na cidade de Buenos Aires , Argentina, quando completei a prova com 1 hora e 22 minutos. Por natureza sou um velocista, mas por persistência me tornei um corredor de provas longas. O desafio continua!
Tubaína e mortadela
Em 1983, fui escalado pelo presidente da Federação Paulista de Atletismo, o comendador Evald Gomes da Silva, para representá-lo na Meia Maratona de Itapira, interior de São Paulo. Na ocasião, exercia o cargo de diretor do departamento infanto-juvenil e, a minha missão era acompanhar a prova do carro madrinha (veículo que vai à frente dos líderes) e ao término da prova participar da solenidade de entrega de prêmios.
A Meia Maratona de Itapira era uma das principais corridas do Estado de São Paulo, assim como a Meia Maratona da Independência da Gazeta Esportiva. A prova reunia os principais atletas do Brasil.
Conforme o combinado, lá estava eu se apresentando ao organizador do evento. Porém, na função de técnico da CORPORE, na época, estava com o atleta Edson Bergara (primeiro representante do Brasil nas maratonas de Nova York e Boston com 2h15). Contrariando o presidente da FPA, resolvi correr a prova, uma vez que começava a treinar distâncias mais longas junto com os atletas da Corpore (a minha prova por vários anos, foi os 400 metros rasos). No início dos anos 80, poucos se aventuravam em corridas longas, e não mais do que cem atletas só “os feras” se perfilaram a linha de largada, dentro do Estádio Municipal de Itapira.
Logo na largada, todos sumiram, mas, não desanimei e fui em frente. Na altura do quilômetro cinco, entrávamos pelos canaviais, o piso, uma mistura de terra e areia, subida e descida o tempo todo, ninguém à frente e muito menos atrás. Chegava o quilômetro dez, em um dia de muito sol, e nada de água (na época não tinha postos de água nas provas), mas continuei em frente, até sair do canavial muitos quilômetros depois. Já retornando a cidade, avistei um corredor e num último esforço relembrando os bons tempos de velocista, para tentar não chegar em último e quem sabe abaixo das duas horas, alcancei o corredor, que falou que estava com cãibras.
Tentando incentivá-lo, falei – vamos juntos, achando que o sujeito já estava no prego. O cara se animou e me deixou para trás novamente. Completei a prova em último com 2h10, uma hora depois do vencedor, o Edson Bergara, que já tinha recebido o prêmio. Medalhas, na época, só para os primeiros. Nos quilômetros finais, estava louco por uma sombra e água fresca. Quando cruzei a linha de chegada, um dos organizadores veio me recepcionar e falou, “guardei um vale refrigerante e lanche para você”, de imediato agradeci. Estou salvo!
Só que ele não falou que os lanches estavam sendo entregues dentro do Ginásio de Esportes na sala de imprensa, último andar. Esfomeado e morto de sede, subi os primeiros lances de escadas como se nada tivesse acontecido, porém, algo inusitado me esperava. As malditas cãibras. Parei no terceiro lance me contorcendo de dor e fiquei por ali, até que apareceu um corredor solidário, ou talvez, assustado que pensou que eu estivesse com ataque epiléptico. Quando a dor passou um outro sujeito, apareceu com o meu lanche e prêmio: – um copo de tubaína e um sanduíche de mortadela.
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