Ultrapassei minhas limitações e cruzei a linha de chegada da Maratona de Nova York

Chegada da Maratona de Nova York em 1999 – 4h26 – Isabel Masagão

Meu objetivo era escrever sobre “Branding e Marketing” como faço na minha conta no Instagram, @talkingaboutbrands. Porém, a quarentena me trouxe essa lembrança e uma importante lição muito válida de ser lembrada. E me deu vontade de escrever sobre isso…espero que gostem.

Em tempos de quarentena, aproveitei para tirar o que não preciso mais e arrumar várias coisas. Uma delas foram minhas malas e caixas com álbuns de fotos. E me deparei com muitas lembranças boas. Uma delas foi o álbum com as fotos da Maratona de Nova Yord em 1999. Sim, faz muito tempo, e não importa. Com certeza foi um dos grandes feitos da minha vida e me dá muito orgulho.

Lembrar que eu fui capaz de realizar e me sentir a pessoa mais poderosa do mundo me fez muito bem. E me fez lembrar que eu posso muito mais.

Um pouco de história:                                                                                              

Quando criança infelizmente eu fiz muito pouco esporte. Um pouco por falta de incentivo, um pouco por talvez não ‘ter no sangue’,como muitos têm. O fato é que eu era a criança gordinha que fugia da aula de educação física, que não jogava bem a maioria dos esportes e sempre acreditava que aquilo não era pra mim. Até eu entrar no Grupo Pão de Açúcar, começar a treinar por acaso e decidir correr a maratona de Nova York.

Sim, foi por acaso pois tinha ouvido dizer que tinha um grupo que se encontrava para se exercitar de manhã. Decidi encontrá-los para ver como era. Cheguei lá encontrei nada mais, nada menos que o técnico Wanderlei de Oliveira e um grupo de maratonistas treinando. Naquele momento eu confesso que não sabia nem quantos quilometros tinha uma maratona. E muito menos a seriedade com que se treinava para correr uma. Tive que aprender na raça.

E assim eu comecei, despretensiosamente. E fui pouco a pouco evoluindo…. e gostando. Tive a a sorte de correr em um grupo fantástico e ter amigas muito próximas que corriam junto. Nos encontrávamos para treinar 4 vezes durante a semana às 6h15 da manhã no ginásio do Ibirapuera e aos sábados às 7 horas na USP – Cidade Universitaria de São Paulo. Eu basicamente rodava com o grupo pela semana, fazíamos um treino de tiro às quartas e no sábado um longão de 20 km. Sim, todos os sábados eu corria 20 km, batendo papo como se estivesse na sala de estar. E depois íamos tomar café da manhã na padaria – daqueles que nem pesava na consciência.

Era muito boa a nossa rotina e confesso que nunca me senti tão bem fisicamente e mentalmente.

Eu fui pegando gosto pela coisa, e levando a sério. Lembro de ter começado no mês de novembro e no dia 31 de dezembro de 1998, escrevi a meta de correr a maratona de Nova Yorki no ano seguinte. Nesse momento o bichinho de correr tinha me picado e meu desafio era comigo mesma. E isso era o que mais gostava da corrida. Era uma competição comigo e qualquer segundo a menos era uma vitória interna. E quando se está treinando com disciplina, você vai tirando segundos e mais segundos. E é uma sensação de vitória atrás da outra.

Falando em disciplina… impossível não pensar no nosso técnico, o querido Wanderlei de Oliveira, o qual muitos chamavam de mestre. Extremamente disciplinado, ele foi essencial para que eu passasse de ‘não-esportista a maratonista’. Não me esqueço os únicos 2 dias em que faltei no treino: um porque choveu e o outro porque estava com dor de garganta. Nos 2 dias ele me ligou no trabalho e perguntou se eu era feita de açúcar (no dia da chuva) e se por acaso eu corria com a garganta (no dia da dor). Ele era exigente, e com ele ou era sério nos treinos, ou não fazia parte da equipe. Claro que depois dessas 2 experiências eu nunca mais faltei. Foi um ano de treino intenso, dormindo às 10 horas da noite, me alimentando corretamente e com foco total no objetivo. E como consequência, me preparei para correr uma maratona- de corpo e alma.

Além dos treinos habituais, participávamos de muitas corridas de rua: de 5k, 10k, 15k e 21k…. E cada uma delas ia nos ensinando mais e mais.

Uns 2 meses antes de viajarmos, fizemos os 3 treinos de 30km. 30 km. Na USP, com 3 subidas da Biologia. Quem corre ou já correu sabe o que estou falando. Lembro de pensar como é que ainda correria 12k a mais no dia da maratona. Mas vai…. se estiver preparado, você corre e termina.

E assim, em novembro de 1999 nós partimos em um grupo de 100 pessoas, muitos funcionários do Grupo Pão de Açúcar, todos selecionados pelo nosso querido técnico para finalmente correr a maratona de Nova York. Eu nunca corri em outros lugar mas uma coisa é certa – Nova York é emoção demais.

Quem gosta de correr maratonas, Nova York é uma daquelas que tem que fazer pelo menos 1 vez na vida.

Tirando todos os preparativos pré-prova, o frio e toda a ansiedade, é uma experiência difícil de descrever… São tantos filmes que passam na sua cabeça quando você está correndo. É emocionante demais. E além disso você tem que se concentrar na velocidade, para pegar água, tomar o squeeze, etc. Poderia escrever histórias e mais histórias desse dia.

Nova York é especial. Conforme você vai correndo, cruzando a cidade, passando pelos diferentes bairros, as ruas estão ‘abarrotadas’ de pessoas torcendo, gritando por você. Tem bairro que tem banda de música, outro tem música para dançar, em outros tem um pai com uma criança no ombro se esticando toda para tentar bater a mão na sua. Você se sente realmente especial.

Do ponto de vista técnico foi uma corrida boa, eu não tive nenhum imprevisto como muitas pessoas tem (maratona é uma caixinha de surpresas, você nunca sabe o que vai acontecer). Só lembro de estar mais cansada na 2ª metade e passar por um grupo de pessoas e ouvir “Gooooo Brazil”. Eu tinha uma bandeirinha na camiseta e mal sabem essas pessoas o quanto de energia e gás eles me deram com o incentivo. Quando você chega no Central Park é muito emocionante… já está chegando perto do final, mas ainda faltam 6 km e você já está cansado, então a concentração tem que ser maior.

E finalmente, de longe, você vê a linha de chegada se aproximando. E naquele momento meu coração literalmente quase saiu pela boca até a hora de cruzar, depois de 4 horas e 26 minutos correndo. Fico com lágrimas nos olhos de lembrar e sim, cruzei a linha de chegada comemorando com os braços para cima e muita emoção. Eu tinha conseguido! E é difícil pra caramba- requer muito treino, dedicação, disciplina… e cabeça. Dizem que a cuca é 50%.

Ao chegar, uma funcionária da organização se aproximou para tirar o chip do meu tênis e me colocar uma capa – ventava muito. Lembro dela olhar pra mim, me ver chorando e perguntar: “Are you ok, mam?”. “ Yes..I am just happy” foi minha resposta.

E a criança que fugia da aula de ginástica, tinha acabado de cruzar a linha de chegada na Maratona de NY. E assim, com todo esse orgulho, passei os próximos dias em Nova York com a medalha no peito e uma dor muscular que era muito boa. E é com o mesmo orgulho que termino a minha memória nessas mal traçadas linhas… E deixo a frase de Walt Disney que escrevi no início e representa muito essa experiência para mim e para quem tiver a chance de ler esse artigo: “If you can dream, you really can do it” ,ou seja, “ Se você pode sonhar, você pode realizar”

Isabel Masagão, 46 anos, gerente senior de marketing na Suzano. Instagram @talkingaboutbrands

dbbwanderlei

Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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Wanderlei Oliveira

 

Iniciou no atletismo em 1965. Já percorreu o equivalente à três voltas ao redor do planeta Terra. Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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