Claudia eBia, sua filha. Roberto Feitosa e Márcia Possari - São Silvestre
Largada: Claudia Shaefer e Beatriz, sua filha. Roberto Feitosa e Márcia Possari

Há mais de 40 anos acompanho a Corrida Internacional de São Silvestre. Faltando 30 dias para o grande evento, perguntei ao Roberto Feitosa se iria correr a prova, ele disse que emprestaria as pernas para ser guia. Acompanhem seu depoimento.

“Minha quarta participação na São Silvestre foi especial. Junto com a maratonista Márcia Possari fomos como guias voluntários do projeto “Correr por Eles” idealizado pela minha amiga Claudia Shaefer. Um projeto que tem como objetivo a inclusão e integração de portadores de alguma deficiência física através da corrida de rua.

Para esta prova vieram cadeirantes de Santos, Jundiaí e Campinas totalizando 15 cadeirantes e mais de 200 guias voluntários estiveram presentes. A maior dificuldade vivida nesta prova foi o forte calor, o que levou a se fazer diversas paradas nos locais de sombras para hidratação tantos dos cadeirantes como de todos guias envolvidos, um fato bonito é que durante essas paradas os demais participantes da prova,  aplaudiam e incentivavam a todos a seguir em frente.

Mas o que mais me marcou durante as 3h04′ que foi a duração da prova, foi a solidariedade de todos, um ajudava o outro automaticamente, tanto para conduzir quanto para abrir caminho e proteger os cadeirantes.

Foi muito especial para mim terminar o ano com pessoas tão especiais, que lutam e batalham por uma linda causa: A Inclusão.” Roberto Feitosa, 46 anos, maratonista, estudande de educação física.

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Víctor conduzido por Roberto Feitosa – Corrida Internacional de São Silvestre

“Em um treino, o Roberto Feitosa comentou como fora sua participação no projeto “Correr por Eles” e havia dito que na São Silvestre deste ano (2016)  correria novamente por este projeto. Escutei aquilo no dia, achei bacana, mas minha empolgação parou por ai.

Na semana da prova assisti a matéria gravada pela Globo e com a participação do Roberto. Ali, consegui enxergar o quanto era lindo aquilo, me arrepiei, me emocionei, e pensei: porque não fechar meus quilômetros de 2016 de uma forma diferente? Neste momento me empolguei e logo tratei de falar com meu técnico, que me apoiou a participar.

As 7 horas do dia 31 de dezembro estava eu na largada da São Silvestre, me juntei aos voluntários e fiquei ali observando como funcionaria tudo aquilo. Sem muitas regras, com uma temperatura já elevada, largamos pontualmente as 9 horas, JUNTOS com o pelotão “geral” da Corrida Internacional de São Silvestre.
Neste momento inicial, o papel dos voluntários, além de empurrar as cadeiras, era também criar um “cordão humano de isolamento”, para garantir espaço para as cadeiras passarem ao longo do percurso.
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Permaneci no cordão de isolamento até o km 6, observando a reação de cada cadeirante que ali estava e também vendo quanto os voluntários que se preocupavam com a hidratação, proteção solar e “conforto” deles. Confesso que precisa estar forte para ficar ali no cordão de mãos dadas e resistindo ao empurra-empurra de outros corredores.
A partir daí entendi que o papel do voluntário não é importante, é essencial, não só por auxiliar os familiares conduzirem as cadeiras, mas para garantir o bom andamento e conclusão da prova, cercando de conforto e segurança os cadeirantes.
Nós voluntários, sempre procurávamos o trecho que houvesse mais sombra no percurso e menos depressão no asfalto. Logo de cara, tivemos dificuldades com a hidratação, já que esta só foi possível no primeiro posto de água, como alternativa, no decorrer do percurso também compramos muita água.

Por ser uma prova de grande público, precisávamos a todo instante alertar os corredores a nossa frente, que logo atrás deles vinha um pelotão de cadeirantes (muitos corredores corriam em zigue-zague, dispersos no tempo, com fone de ouvido, em grupos grandes e até mesmo caminhando), além de todos estes detalhes, vez ou outra parávamos literalmente no percurso para atender as necessidades fisiológicas de um ou outro cadeirante, aproveitar alguns instantes na sombra, reforçar o filtro solar e tantas outras vezes para reunir o comboio, que devido as dificuldades da prova se dispersava.

Por volta do 8 km assumi a cadeira do Antonio, que foi meu parça de corrida por aproximadamente 4 quilômetros, ele e seu sorriso enorme me motivaram. Fomos conversando e nos divertindo no percurso. Quando eu acelerava um pouco ou fazia uma “ultrapassagem” ele vibrava. No bate papo ele até me contou que nesse mês de janeiro vai saltar de paraquedas e não vê a hora de realizar tal experiência.

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Chegada da Beatriz – Corrida Internacional de São Silvestre

Foram 3 horas de “corrida”, cheias de dificuldades? Sim e muito!!! Mas que confesso que nem vi o tempo  e muito menos os quilômetros passarem.

Após atravessar a linha de chegada, a alegria e emoção contagiava a todos a nossa volta.
Eu tive um aprendizado enorme, enxerguei o quanto é bom sorrir, olhar para o mundo de uma forma alegre, se sentir vivo e como é maravilhoso CORRER, independente da forma que isso seja feito. Essa lição vem comigo para 2017, para todos os próximos quilômetros da minha vida.” Relatou Márcia Possari, 33 anos, contadora  e maratonista. Corre há 5 anos, esta foi sua terceira São Silvestre.

Wanderlei Oliveira

Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

2 comentários

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  • Lindo depoimento, fiz parte do cordão de isolamento, dendo membro dos Monstros não tinha como deixar este evento de lado, foi minha primeira corrida como pipoca….foi sofrido, desgastante, não pelo percurso, mas pelo Sol e a responsabilidade da segurança dos cadeirantes, condutores e dos próprios corredores….completo foi uma experiência completa….2017 tem.mais……uuuuhhh

Wanderlei Oliveira

 

Iniciou no atletismo em 1965. Já percorreu o equivalente à três voltas ao redor do planeta Terra. Técnico fundador do Clube Corpore, em 1982, e do Pão de Açúcar Club, em 1992. Desde 2000 é comentarista e blogueiro.

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